
Lucimar Ramos O. Cataia
Instagram: @tialucataia
Sobreviver em meio a tempestade somente é possível se aceitarmos a vontade de Deus e compreendermos que Ele vê coisas que nós não enxergamos. Todos nós queremos ter longa vida terrena, mas decidir quem fica ou parte não compete a nós. O verdadeiro milagre está em obedecer aos desígnios de Deus. Por isso, valorizo a comunhão que tenho com Deus e a minha maior sobrevivência é ter minha fé renovada em meio a dor.
Em dezembro de 2019, através de uma visão, Deus me mostrou que iria recolher minha mãe e meu esposo, e que não seria algo limitado a minha família, mas que a humanidade passaria por uma grande tempestade. Eu comecei a clamar a Deus, orando durante as madrugadas. Meu amado esposo passou a me acompanhar em orações e Deus falava de forma natural com ele. Esses momentos levaram-no a ter intimidade com Deus e a receber dele respostas imediatas para sua vida.
Em abril de 2021, fui contaminada pelo vírus da Covid e tive 50% do meu pulmão comprometido. Fiquei em internação domiciliar, por aconselhamento médico, isolada em um quarto dentro de minha casa. Eu recebia alimentos e cuidados por meio de uma enfermeira contratada para isso. Meu marido e meu filho ficavam do outro lado da casa, e eu não podia ter nenhum contato com eles
Um dia, meu esposo fez uma chamada de vídeo para mim, pedindo oração em favor de nosso filho, que parecia não estar bem. Depois disso, comecei a perceber uma movimentação diferente em casa e que meu marido também não estava passando bem. E eu, por estar isolada e impossibilitada de fazer qualquer coisa, não conseguia lhe dar os cuidados de que ele precisava, mesmo sendo sua esposa e também enfermeira.
Então, meu marido, de 59 anos, contrai a Covid e, por ser do grupo de risco, necessitava de cuidados específicos. Às vésperas do dia das mães, inclusive, ele passa a ter comportamentos estranhos, que somente hoje compreendemos, de se despedir de familiares e amigos. Foi tão sutil, mas agora entendemos.
Na sequência, meu marido e filho foram hospitalizados, em um mesmo hospital, mas em UTIs diferentes. Meu filho está em estado mais grave, com saturação de 66%. Passam os dias e eu recebo alta médica, mas permaneço em casa, e recebo a liberação do hospital para visitá-los, mas Deus recolhe o meu esposo, fazendo com que meu peito praticamente se rompesse em dor. Já o meu filho teve alta médica após 11 dias de internação.
Quanto à minha mãe, ela havia me ligado em 27/05 para orar por mim, pois eu estava enferma e também para eu orar por ela, não porque estivesse mal, mas, sim, porque costumávamos ter, juntas, esse momento de comunhão com Deus. Porém, essa foi a última vez em que falei com ela. Mesmo sem comorbidades, ela apresentou arritmia cardíaca súbita e foi hospitalizada e entubada em uma UPA. No entanto, acabou falecendo após sofrer três paradas cardíacas. Ela faleceu em 30/05, às 19h40, no mesmo dia em que poucas horas antes, às 15h30, eu havia sepultado meu marido.
Sobrevivi em meio a tantas tempestades, pois as orações em depósito me mantiveram de pé. Diante de tudo, compreendi que há pessoas que morrem sem nunca ter sido amadas e outras que morrem sem nunca ter amado, porém eu pude amar e ser amada pelas duas pessoas mais importantes de minha vida: meu marido e minha mãe. Duas pessoas lindas, bondosas, com quem vivi, aprendi e compartilhei a minha vida.
Toda a minha família restante é maravilhosa e hoje estamos convivendo mais próximos, ajudando uns aos outros e buscando renovar a nossa fé todos os dias de nossa vida.
