Ressignificando CICATRIZES

Isabella Maldonado @clinicarvoredavida Meu nome é Isabella, tenho trinta e cinco anos e sou cristã.  Com cinco anos, sofri o […]


Isabella Maldonado
@clinicarvoredavida

Meu nome é Isabella, tenho trinta e cinco anos e sou cristã. 

Com cinco anos, sofri o abandono do meu pai (eu, irmão e irmã) e fomos criados e sustentados pela minha mãe que, devido à grande responsabilidade, se tornou uma mulher rígida na nossa educação. Conheci a igreja Universal, tive um encontro com Deus e aprendi a transformar dores em gratidão para poder seguir em frente. Perdoei meu pai e fui, aos poucos, superando mágoas, traumas, insônias, inseguranças, tristeza e depressão, como sinal de um recomeço. 

Passamos por desertos, mas o pior deles aconteceu em 2010, quando minha irmã mais velha, Priscilla, de vinte e oito anos na época, linda, amorosa e cuidadosa comigo e com meu irmão, começou a enfrentar uma grande tribulação em seu relacionamento. Ela namorava um rapaz havia anos, com o qual tinha o sonho de se casar, quando, de repente, começou a receber mensagens e ligações de outra mulher, que dizia estar com o namorado de minha irmã. 

Após Priscilla descobrir as inúmeras traições dele, abriu o ‘’Orkut’’ e viu as fotos de viagens, saídas, compartilhamentos e exposições desnecessárias sobre seu namoro na internet. 

Comentários maldosos e ofensas na internet destruíram a sua integridade física e mental e ela começou a questionar seu valor e sua identidade. Eu presenciei os oito anos de um relacionamento acabarem em segundos e todos os planos de felicidade serem destruídos. Ela se calou e, em seus olhos, era notória a melancolia. Começou a se queixar de cansaço e parou de frequentar a faculdade, já que tinha muita vergonha de aparecer em público.

Nunca imaginei que uma tela (redes sociais) pudesse destruir tanto a imagem de alguém. Mas foi assim que aconteceu. Minha irmã sofreu os malefícios de uma vida exposta e, atormentada pelos números de curtidas, foi sucumbindo até o ponto de ficar na cama, perder a fome e a vontade de viver. Em pouco tempo, o quadro clínico piorou. Não havia nada que eu pudesse fazer por ela, pois sabemos que as redes sociais são uma “terra sem lei”.

Para maior possibilidade de cura, Priscilla foi transferida para o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo e atendida pelo doutor Matsumoto. Veio o diagnóstico de leucemia mieloide aguda. Recordo-me das palavras dele: “O que ocorreu com essa menina que a deixou tão triste e ela não se ajuda?”

A verdade é que o tempo passou muito rápido e minha irmã só piorava com complicações renais, respiratórias, trombose, aumento de peso devido aos líquidos e hemodiálise, mas, apesar do seu estado, seu semblante continuava leve e sereno. Até que, na madrugada do dia primeiro de junho de 2010, ela nos deixou.

Perdi minha companheira de vida e um pedaço de mim se foi, mas eu havia prometido a ela que cuidaria das pessoas como ela faria. Então, redirecionei minha vida, voltei para a faculdade de Psicologia para cumprir a promessa. Montei uma clínica e venho cumprindo o meu propósito de cuidar de vidas.

Sem essas cicatrizes, jamais chegaria até aqui, pois elas me construíram como pessoa, como profissional, como mulher de Deus e, acima de tudo, como filha do meu único criador. 

Cheguei a ser quem eu sou pelas experiências vividas com o perdão ao meu pai, com a superação da morte da minha irmã e com o enfrentamento das dores emocionais. Motivos que foram ressignificando as cicatrizes e me tornando uma mulher de Deus, forte e grata. 

Deixo a vocês meu alerta sobre as redes sociais e sua influência sobre seus filhos e sua família. Atentem-se aos malefícios dessa exposição sem limites e a como as pessoas podem ser prejudicadas e até adoecerem em virtude de comentários, ataques e ofensas que circulam nesses espaços digitais.

Cicatrizes não são falhas e sim uma incrível marca da nossa capacidade de cura. É impossível uma vida sem elas a menos que você viva tão superficialmente a ponto de não viver nada.

“Coloquei toda minha esperança no Senhor, ele se inclinou para mim e ouviu o meu grito de socorro”. Salmos 40.1

Isabella e Priscilla

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