
Saulo Santos Tobias
Poeta
Falar sobre o suicídio é pisar o solo sagra- do do sofrimento humano, naquela linha tênue que separa a vontade de viver da vontade de morrer. E, para esse caminhar, não se deve estar calçado com sentimentos profanos, principalmente os de julgamento. Ideal seria calçar as sandálias da empatia.
É necessário reverência e sensibilidade. Reverência para com a situação, pois não conhecemos os motivos que levariam alguém a atentar contra a própria vida e sensibilidade para que “As pessoas identifiquem sua dor, sem que se destruam”. (Karina Okajima Fukumitsu).
Sou poeta. A poesia me deu a sensibilidade ou a sensibilidade me conduziu à poesia, não sei ao certo. No entanto, essa tem sido a forma em que melhor me expresso. Portanto, farei uso de uma poesia, que não aborda o tema suicídio em si, mas depressão, já que esta, se- gundo a Organização Mundial de Saúde, atinge, hoje, 10% da população mundial e é a principal causa dos suicídios. Logo, tratar a depressão significa reduzir consideravelmente os índices de suicídio.
Esta poesia é fruto de três anos de aconse- Thamento pastoral, em que, com muita oração, jejum e lágrimas, vimos o poder de Deus res- gatar uma jovem, a qual chamo de Hope, que tinha uma relação conturbada com seus pais, tinha tentado suicídio duas vezes e atravessa- va um vale profundo de depressão.
Lembro-me do momento em que lhe apresentei a poesia. Foi transformador. A impressão que tive foi de vê-la rasgando o ar, como se estivesse em uma bolha invisível que explodiu e, agora, de fato, ela respirava. Seu semblante mudou instantaneamente e ela disse: “Parece que você leu tudo o que estava em minha mente e que nunca consegui por para fora. Como conseguiu fazer isso? Este é um dos poucos momentos em que não me senti julgada por me encontrar no estado em que estou. Obrigada…por tanto”.
POESIA: A ALMA EM DEPRESSÃO.
Essa coisa está acabando com a maioria dos meus amigos
E difícil admitir
Mas tenho que reconhecer
A DEPRESSÃO também está acabando comigo.
Eu não tenho vontade de comer
nem de me arrumar
Eu sinto a morte tão perto Não tenho expectativas para o futuro
Não quero companhia, não perturbem minha privacidade
O meu lugar é sozinha nesse quarto escuro.
Aqui faço meus questionamentos
Aqui finjo estar satisfeita com as respostas Que encontro para as minhas indagações Aqui construo minhas fantasias
Aqui viajo em minhas ilusões
Aqui tenho tudo, aqui não sou nada
Aqui os sentimentos são só decepções.
Eu sofro com essa depressão
E mais: eu sofro De-pressão
De-pressão por dentro
De-pressão por todos os lados De-pressão quando estou sozinha
De-pressão quando tenho alguém ao meu lado
De-pressão neste meu quarto que, a cada minuto
Parece mais escuro e mais apertado.
Parece que eu não caibo em lugar algum
Não acho posição nem para dormir, de todo jeito fica ruim.
Não caibo no quarto, não caibo na cama, não caibo no mundo
Eu tenho a impressão
De que não caibo nem em mim.
E em mim já não cabe tanta dor
É uma dor tal que ninguém explica Eu luto para não senti-la
Mas, quanto mais eu luto, mais ela se intensifica.
Qual será a causa disso?
Será que um dia serei a vencedora
E finalmente a depressão será vencida?
Acho que ela faz tanto parte de mim
Que, para acabar com ela, só acabando com a minha vida.
Caso essas palavras sejam um retrato de sua vida, desejo que elas produzam esperança para um novo caminhar. A depressão dói, mas tem cura. Talvez essa poesia tenha falado com você e essa identificação já é o começo da cura, possibilitando um novo direcionamento para sua vida.
Escrevo com amor, em nome do Amor.
Embora a depressão seja uma porta para o suicídio, ela está vencida, porque Jesus disse: “Não temas, pois eu tenho em minhas mãos as chaves da morte”. (Apocalipse 1:18)
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