Plantando Esperança 

Jose C. S. Tasso | jchaiane@hotmail.com Meu nome é Jose Chaiane Schütz Tasso. Sou casada com Mateus e temos um […]



Jose C. S. Tasso | jchaiane@hotmail.com

Meu nome é Jose Chaiane Schütz Tasso. Sou casada com Mateus e temos um filho chamado Davi. Moramos em Novo Hamburgo (RS) e meu marido é pastor da Igreja da Ascensão, nesta cidade. 

Em abril de 2024, uma grande catástrofe aconteceu aqui no Rio Grande do Sul, iniciando-se na região dos Vales, a cerca de 143 km de nossa região. As intensas chuvas foram sobrecarregando as bacias dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos, Gravataí e Guaíba, que transbordaram, inundando vários municípios e deixando muitas pessoas desabrigadas. 

Como nossa igreja situa-se em um local central, o grupo ACI (Associação de Comércio e Indústria) de Novo Hamburgo solicitou nosso espaço para ser o centro de arrecadação e distribuição de doações de roupas, materiais de higiene e confecção de marmitas, as quais enviávamos para os lugares como ginásios de escolas e centros de eventos que estavam abrigando os afetados de alguns municípios, e prontamente nos mobilizamos para ajudar. 

As águas acabaram chegando a Novo Hamburgo e, pela primeira vez, o dique do Rio dos Sinos transbordou. O dique faz a contenção de água do Rio dos Sinos, que atravessa São Leopoldo e parte de Novo Hamburgo, com 11km de distância entre as cidades. As águas chegaram a 3 km de nossa casa e de nossa igreja, bloqueando rodovias de acesso. 

Aqui, em Novo Hamburgo, foram em torno de 32 mil pessoas afetadas; já, em São Leopoldo, 180 mil desalojados. Os desabrigados eram resgatados de barcos por bombeiros e salva-vidas, sendo encaminhados para os abrigos. Em minha cidade, foram abrigadas em torno de 4700 pessoas, em diferentes locais. 

Com o passar do tempo, tanto o número de voluntários quanto o de doações começaram a diminuir, mas, após a liberação de algumas rodovias, começamos a receber doações de igrejas, empresas e pessoas de outros estados do país, e encaminhávamos essas ofertas também para outras cidades. Vieram ainda voluntários da JOCUM (Jovens com uma missão) da Argentina e de Minas Gerais, que ficaram alojados nas dependências de nossa igreja e um grupo cristão norte-americano (Operation Blessing). 

Fizemos uma força-tarefa, dividindo as frentes de trabalho por equipes compostas por pessoas de nossa igreja e da cidade de Novo Hamburgo. Havia uma equipe na cozinha, que montou e distribuiu 75.000 marmitas; outra, saía pelos bairros, onde a água já havia baixado, para ajudar na limpeza das casas; e outra trabalhava na distribuição de roupas, cestas básicas, produtos de limpeza e higiene, etc. Também buscávamos transmitir alívio emocional e força espiritual aos desabrigados, fazendo um trabalho evangelístico no qual falávamos  do amor de Deus e distribuíamos livros com histórias de esperança para um novo recomeço. 

Em todo esse processo, tive contato direto com muitas pessoas, sendo meu maior desafio “OUVIR” o desabafo delas e sua incerteza a respeito do futuro. Busquei transmitir-lhes a força que vem de Deus, plantando uma sementinha de esperança em seus corações. Nem sempre eu tinha palavras para confortá-las e apenas chorava junto. Porém, apesar cansaço físico, foi recompensador ver as pessoas saindo com um sorriso e gratas por algumas peças de roupa, calçados e alimentos. 

Em nosso esquema de organização, entregávamos as doações na parte da tarde, todavia, em certa manhã, apareceu uma mulher pedindo suprimentos. Eu lhe falei que atendíamos a partir das 13h30 e ela me disse que necessitava apenas de alimento, pois seus filhos não tinham o que comer. Dei a ela uma cesta básica e vi a gratidão no brilho do seu olhar. No final da tarde, ela retornou para agradecer: “Obrigada! Hoje meus filhos tiveram comida”. 

Atualmente, ainda continuamos ajudando com doações de roupas em lugares específicos, pois muitas famílias que ainda não voltaram para suas casas, estão em um aluguel social cedido pelo município por doze meses. Para nós, socorristas, tudo o que aconteceu já está tão distante, mas para aqueles que foram atingidos e perderam tudo, ou quase tudo, ainda é muito presente. 

Tenho a total certeza de que muitas pessoas foram alcançadas de alguma forma e de que plantamos uma esperança em meio a esse desastre. Eu não vivi a enchente, mas eu convivi com ela e agradeço a Deus por ter sido um instrumento dele na vida de muitos necessitados, auxiliando-os não apenas com recursos materiais, mas também lhes transmitindo força para recomeçar. 

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