
Por: Vania Maria Antonio de Souza
Aposentada da área da Saúde
Quando eu tinha 18 anos, aconteceu uma tragédia na vida da minha família: perdi meu irmão de 17 anos, vítima de um grave acidente automobilístico. Filha de pais separados, vi a minha mãe totalmente descontrolada emocionalmente, agressiva e sem direção na vida. Ficamos eu, sendo a mais velha, e minha irmã caçula. Com isso, nossa família sofreu um golpe muito grande, pois éramos muito unidos e havia pouco tempo que tínhamos perdido a presença do nosso pai.
Tivemos, então, que sair cedo para trabalhar a fim de manter o nosso sustento. Por causa do descontrole total da minha mãe, ela procura ajuda em uma Igreja Católica, pois a nossa religião era o Catolicismo e vivíamos toda a sua doutrina. Ainda lhe sugerem buscar auxílio psiquiátrico diante do quadro que apresentava. Lembro-me, claramente, de um episódio em que voltávamos para casa e minha mãe chorando muito, sem saber o que fazer e onde conseguir ajuda para aquele momento tão dolorido e angustiante.
Nessa busca, também é orientada a procurar um Centro Espírita. E assim fez, encontrando ali o que precisava para aquele momento de sua vida: atenção para ser ouvida e cuidada.
Iniciava-se ali um novo momento de nossas vidas: nesse local, toda a família e parentes são recebidos.
Passamos a viver totalmente voltados para o Espiritismo, dentro da Umbanda. Ali, todos nos batizamos e frequentávamos com total fidelidade.
Participávamos das sessões espíritas às segundas, quartas e sextas-feiras, por vários anos. Em um determinado momento, minha mãe decidiu abrir, em nossa própria casa, um “Centro de Umbanda” e ali passaram a acontecer as sessões nas quais recebíamos muitas pessoas de toda classe social. Nesse contexto, muitos fatos importantes aconteceram em minha vida: ingressei-me na minha profissão de “Enfermagem”, tive meu primeiro filho (estando solteira), minha irmã faleceu, tive mais uma filha, casei-me e tive minha terceira filha.
Quando solteira, era totalmente descontrolada, irritada, agressiva, apenas dentro da família. Fui para um casamento com grandes tribulações e muito sofrimento. Minha crença era no espiritismo e catolicismo, com todos os seus rituais. Em nenhum momento, recebi orientação sobre como ser mãe ou ser esposa, e eu nem sabia ser filha, pois não respeitei minha mãe. Com meus ataques histéricos, como ia saber ser uma pessoa melhor? Não tinha nenhuma direção do que podia fazer ou não. Meus princípios humanos baseavam-se no fato de nunca ter sido uma pessoa desonesta, já as demais coisas para mim estavam certas. Estava liberada para fazer o que bem entendesse e tomar minhas próprias decisões.
Vale ressaltar que não queria nem passar pelo casamento, pois não considerava isto importante, já que achava que poderia criar os meus dois filhos sozinha, uma vez que tinha condições para isso.
Casei-me devido ao grande empenho do pai dos meus filhos, mas, se pudesse escolher, eu achava melhor continuar solteira. Durante o meu casamento, eram tantas agressões, idas e voltas que, eu tinha a convicção de que acabaria morrendo devido aos intensos maus-tratos. Nesta época, eram muitos rituais feitos para melhorar meu casamento; no entanto, por mais que as minhas crenças me fornecessem várias doutrinas para melhorar minha situação, nada resolvia. Ainda assim, eu continuava nesse caminho.
Após cinco anos de casamento, meu marido foi diagnosticado com câncer. Nesse período, procurei ajuda nas doutrinas das duas únicas religiões que conhecia e acreditava. Fazia tudo o que poderia ser feito, mas sem melhoras. Até que, após dois anos, chegou até nós uma amiga, enviada por Deus, para nos trazer sua palavra e acalento. Ela ofereceu uma visita para orar pelo meu marido e, apesar da maneira dura que ele tinha de ver as coisas, ele aceitou.
Começamos a receber orações, visitas e leitura da Bíblia. Mesmo sem entender nada, sentíamos certo alívio e conforto. Quando as pessoas iam embora, ficava um sentimento de paz, esperança e alívio, Era muito interessante para nós tudo aquilo.
Em dezembro de 1997, recebemos a visita do pastor Gabriel (in memoriam) que nos orientou sobre o evangelho de Cristo, orou conosco, levando-nos a entregar nossas vidas a Jesus. Estávamos eu, meu marido e minha sogra. Foi um novo momento de grande conforto.
Nos momentos de crises e de dores, eu procurava fazer o que as pessoas que nos visitavam faziam. Passei a orar nos momentos difíceis e obtinha resposta.
Não tínhamos ritual nenhum para cumprir – era apenas orar. Tudo novo, diferente, bom e esperançoso. Deus fez muitos milagres na vida do meu esposo. Abriu uma fístula em seu abdômen por onde eram eliminadas as fezes, algo que diminuiu em 70% suas dores, abrandou um coração duro e o ajudou a enxergar os fatos de maneira diferente. Toda a vaidade e orgulho foram tratados.
Para meu marido, foi ficando claro que só em Deus encontramos a paz, mesmo nos momentos difíceis e de grande sofrimento. Quando ele recebia os irmãos em Cristo, em casa, mudava o semblante, como se quisesse sugar tudo o que eles tinham para nos dar. Nós dois estávamos sendo tratados juntos, mas cada um dentro da sua necessidade.
Entendi que eu deveria permanecer cuidando dele, dando-lhe carinho, amor e dignidade até o final. Não achava mais que ele iria me matar, como o diabo colocava na minha mente. Aprendi a ser mais calma, valorizar os momentos, perdoar e saber que só Deus pode mudar nossa história. A nossa cura foi completa: corpo, alma e espírito.
Após dois meses de vida transformada por Deus, meu marido faleceu e nos dias de hoje, eu e meus três filhos e netos, vivemos uma vida cristã ativa e na presença do Senhor.
Reconheço o perdão de Deus na minha vida, porque me arrependi de tudo que fiz no passado, fora de sua presença: as imagens que cultuei, os demônios que permiti que chegassem a mim e todas as atitudes e comportamentos errados, Agora, a paz de Cristo reina em mim. Existo para servir o Senhor e, se erro, Ele me mostra e me orienta.
Reconheço o amor de Deus pela minha vida, pois estava no mais profundo abismo e sem perspectivas, mas Ele me resgatou e gatou e me salvou sem cobrar nada.
Quanto à minha mãe, diante de todas as mudanças observadas em minha vida, eu tive a honra de orar com ela para entregar sua vida a Jesus. Ela não viveu o suficiente para desfrutar o Reino de Deus aqui na terra, mas quando eu for para a Glória, a encontrarei lá.
Deus já fez todos os sacrifícios por mim. Agora, é só desfrutar deste Amor Incondicional.
Deus já fez todos os sacrifícios por mim.
Agora, é só desfrutar deste Amor Incondicional.
