
Por: Alessandra da Cunha Gonçalves Silva
@al_essandra3341
Falar sobre a vida com esclerose múltipla é um material muito rico para quem ama escrever, pesquisar e entender mais sobre o ser humano. Verdadeiramente são múltiplas as situações, os sintomas e os desafios, porém com eles múltiplas conquistas, novas amizades e possibilidades.
Há aproximadamente oito anos, sofri quedas sem motivo aparente. A mais marcante foi quando, retornando das compras, caí de rosto em uma calçada com entulhos a poucos metros de minha casa. Por meia hora, chorei assustada porque sabia que não tinha sido normal, que algo estava errado comigo.
Graças a Deus, eu já tinha uma consulta marcada com um neurologista, pois fui orientada por uma médica que percebeu alteração em minha forma de andar. Esse é só um dos detalhes que mostram como fui sendo dirigida e cuidada.
Fui também a um infectologista que pediu uma lista de exames de sangue, líquido da medula, imagens do cérebro e coluna; houve exames enviados a outros especialistas em Campinas e São Paulo.
Finalmente, recebi o diagnóstico de Esclerose Múltipla. O nome assusta, mas foi um alívio entender o porquê das quedas, de muitos outros sintomas e de acontecimentos que agora faziam sentido. De repente, houve uma releitura e compreensão de quem sou, do quanto sou especial, privilegiada e amada.
Em um dos primeiros exames, um médico especialista em imagens ficou impressionado ao observar a quantia de escleroses (locais do cérebro afetados) e fez questão de ver a paciente pessoalmente antes de assinar o laudo. Disse-me: “Eu não quero te assustar, mas você teve muita sorte”. Respondi que eu atribuía à proteção de Deus o que ele considerava sorte. Depois soube, por uma colega de trabalho dele, que ele relatou: “Essa paciente tem que ser estudada”.
Realmente, eu ficava surpreendida a cada momento. Calculamos que, na época que comecei a cair, a doença já estava se desenvolvendo por aproximadamente quinze anos. Tenho lesões no cérebro e na medula, mas caminho, faço fisioterapia e continuo cantando na igreja.
Em tudo, eu e minha família vimos o poder e o cuidado de Deus. Quando recebi o diagnóstico, só pensava na história de Jó, um personagem bíblico, quando ele diz que esperaria em Deus. Eu não sabia como a doença era, como seria o tratamento, mas sabia que meu Pai Celestial cuidaria de mim e que eu não deixaria minha fé. Fui atendida por um centro de referência na cidade de Marília, cidade que no passado não imaginava vir morar onde recebi um tratamento adequado dos profissionais. Desde então, Deus tem nos dado muitas coisas boas e temos contado com orações de pessoas de todo o país e até do exterior.
Fiz um ano de tratamento no Centro de Reabilitação Lucy Montoro, onde aprendi a redirecionar minha vida e conheci pessoas especiais. Observei pacientes e seus familiares lutando com situações bem mais difíceis que a minha, fazendo-me voltar para casa sentindo- me saudável, feliz e privilegiada. Eu era a única que circulava pelo hospital sem que minha doença pudesse ser notada e, por isso, muitas vezes, perguntaram-me se eu era acompanhante de alguém.
Sou grata ao meu marido por ter sempre me apoiado e cuidado de mim e também ao meu filho, que entendeu desde o começo e sempre colaborou.
Não há um tratamento único. Os médicos precisam experimentar e observar cada paciente, o que é bem trabalhoso. Hoje só recebo a medicação a cada seis meses, por infusão (na veia, como um soro) e ela tem trazido muita melhora. Leio diariamente a Bíblia e também outros livros.
Confesso que escrever este texto foi um desafio para quem é formada em jornalismo e precisou se aposentar por causa da doença – pois tenho fugido de voltar a escrever, mas é um privilégio e uma honra compartilhar o que Deus tem feito em minha vida. Na verdade, todos somos limitados e deficientes em algum grau, porém, na nossa fraqueza nos tornamos fortes quando confiamos em Deus.
Tenho certeza de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito (Romanos 8:28).
Confio em que Aquele que começou a boa obra em minha vida é fiel para terminá-la (Filipenses 1:6) e sigo convicta de que o melhor ainda está por vir.

