
Estevão da Silva | Instagram: @abracecanoasrs
Eu me chamo Estevão, sou casado com Vanderleia e temos duas filhas. Em maio de 2024, vivemos uma experiência que nunca esqueceremos, que nos mostrou o amor incondicional de Deus.
Somos de Canoas/RS, bairro Mathias Velho. No dia 3 de maio, amigos e familiares de áreas fortemente atingidas pelas chuvas e das quais a prefeitura solicitou evacuação pediram abrigo em nossa casa. Em pouco tempo, metade do bairro tinha sido atingida e, com a água invadindo nossa casa, nós e as quatro famílias, totalizando 25 pessoas e 15 animais, decidimos nos deslocar para o sobrado da minha cunhada, ao lado de minha casa e que estava vazio.
Já, no sobrado, houve momentos de muita tensão, porque a água começou a subir e, lá de cima, ficamos olhando pela janela a água invadindo nossa casa ao lado, centímetro por centímetro. Toda nossa história, conquistas e recordações materiais de quase 30 anos estavam ficando submersas. A água atingiu três metros. Deveríamos sair ou ficar? Uma decisão difícil, pois deixar o local sem saber para onde iríamos foi um risco que não queríamos correr. E todos decidiram ficar.
Embora a tristeza nos tomasse conta por tantas perdas materiais, experimentamos o amor incondicional de Deus, protegendo, guiando e cuidando de todos nós. Porém, sentíamos dor e impotência por não conseguirmos ajudar aqueles que estavam em risco extremo.
Lanchas, helicópteros e jet-skis passavam para socorrer pessoas que estavam em perigo. Vizinhos gritavam por socorro, amigos nos ligavam pedindo ajuda. Nosso coração ficou apertado.
Lembro-me de um momento que considero o mais doloroso: foi quando recebi uma ligação de um casal de amigos. A mulher disse uma frase curta e rápida: “Estevão, estamos em cima do telhado, tenho apenas 1% de bateria. Vocês são meu último contato de pedido de ajuda”.
Ela disse onde estavam e, como não pude ir, comecei a ligar para todos que, de alguma forma, pudessem socorrê-los. Chorei muito por não ter a certeza de que seriam socorridos e que acabaria me tornando a última esperança deles.
No início da tarde, do dia 4, começaram a nos resgatar de barco, e minha família foi a última a deixar o local. A sensação de sair do bairro e chegar a terra firme foi um alívio, mas ver o caos instaurado, com milhares de pessoas sendo resgatadas de todas as formas possíveis, foi impactante.
Das famílias que estavam conosco, algumas foram para abrigos, outras buscaram familiares para se abrigar e nós fomos para a casa de minha filha.
Dias depois, encontramos o casal que nos tinha pedido ajuda. O relato deles foi emocionante: “Estevão, tivemos a certeza de que não iríamos morrer quando quem nos resgatou, entre tantas lanchas que passavam, chegou nos chamando pelo nome. Enfim, o meu socorro havia sido atendido.” E o Deus do impossível se fez presente.
Nossa casa ficou submersa por 25 dias e, após baixarem as águas, retornamos a ela. Nesse tempo, lideramos um projeto e toda a provisão de Deus que chegou até nós, com diversas doações, foram repassadas a outros e tivemos o privilégio de nos tornar um canal de ajuda para quem ainda estava em situação crítica.
Conseguimos um pavilhão em frente à nossa casa, onde recebemos muitos caminhões com doações, equipamentos para limpeza e reformas das casas bem como o auxílio de quase duzentos voluntários. Durante 7 meses, equipes lavaram 94 casas e 7 foram reformadas.
A ajuda veio de amigos, familiares e pessoas desconhecidas. Agradecemos a todos que nos deram suporte, sem os quais não teríamos como compartilhar essa história. À JOCUM Brasil, na pessoa do Ivo da Silva, à igreja do Evangelho Quadrangular da qual sou membro, na pessoa da pastora Andresa Nunes e pastor Ismael Ribeiro e à Visão Mundial. Em especial, à pastora Renata Carvalho e aos irmãos da Igreja Edificando em Cristo de Guarulhos/SP.
Por aqui, o recomeço ainda está acontecendo. Centenas de famílias permanecem desabrigadas e não recuperaram o que perderam. Contudo, nessa tragédia, o amor incondicional de Deus nos supriu e nos possibilitou alcançar outros, que puderam experimentar de sua grandeza e do seu agir. Em todo o tempo, nossa alegria foi renovada e nossa fé consolidada em Deus. E nele encontramos forças para prosseguir.


