
Su Pedroza | Instagram: @su_pedrozaa
Eu me chamo Suelen Pedroza. Moro em Balneário Camboriú (SC), sou bacharel em direito e também me tornei palestrante, apresentadora, atleta de corrida acessível e escritora.
No dia do acontecimento, eu e meu esposo estávamos em Itajaí (SC). Era uma noite como outra qualquer. Eu estava na garupa da motocicleta, voltando para casa, pois havíamos saído da Igreja. O clima era ótimo, muitas risadas e planos. Jamais poderia imaginar que, a poucos segundos, minha vida mudaria completamente.
O acidente aconteceu e foi brusco. Fui arremessada no asfalto após um motoqueiro do iFood vir na contramão em nossa direção. Meu marido fez uma manobra para o acidente não ser ainda pior. Tudo muito rápido, um instante que separou o “antes” e o “depois”. Acordei no hospital Marieta Bornhausen, em Itajaí, cercada por uma mistura de sons e rostos preocupados.
Meu esposo faleceu após o acidente e a última lembrança que tenho dele foi no hospital. Éramos atendidos lado a lado, separados por uma cortina. Ele falou que não estava conseguindo respirar e eu lhe disse: “Deus sabe de todas as coisas, confia Nele”. E, logo em seguida, entrei em coma. Passei seis dias em profundo sono. Devido à hemorragia decorrente da fratura exposta do fêmur da perna esquerda e à falta de circulação do sangue até o pé, os médicos tomaram a decisão de amputar minha perna para que eu me salvasse. Quando acordei, ela já havia sido amputada, e a triste notícia da morte de meu esposo pairava no ar. Os médicos me informaram que, se eu permanecesse mais alguns dias naquele estado, seria necessário realizar uma traqueostomia. Mas, graças a Deus e à extraordinária médica, eu acordei e me livrei disso.
Nos três meses seguintes, fiquei com fixador externo para aprender a caminhar novamente, e, quando o retirei, usei andador, muletas e cadeira de rodas. Foi um processo lento, mas contei com o auxílio de muitos profissionais incríveis que me acompanharam até a perfeita cicatrização.
O próximo passo foi colocar uma prótese de perna. Para sua obtenção, minha equipe de trabalho, amigos e a comunidade de Balneário Camboriú organizaram uma campanha de arrecadação de recursos para esse fim. Isso me fez enxergar o quanto o amor e a solidariedade transformam vidas. Esse apoio renovou minha fé e me mostrou que, mesmo nas adversidades, há luz.
Nesse processo de reabilitação, precisei enfrentar medos e abraçar o novo. Aprendi a andar com a prótese por meio de muita fisioterapia e a viver com limitações de uma pessoa com deficiência (PcD), além de adaptar meu carro. E isso me impulsionou a lançar meu livro “Ela só tinha uma noite”, em que relato detalhes de tudo o que vivi.
Como a minha prótese não é fixa, eu tenho, todo dia, que colocar o liner, encaixar a prótese para então fazer minhas atividades diárias. Fui muito bem recebida nos lugares a que retornei e, no serviço, o banheiro foi adaptado para satisfazer às minhas necessidades. Hoje, eu faço tudo, ou seja, retomei a vida dentro de minhas possibilidades.
Vejo meu corpo de forma diferente, mas com orgulho. Cada marca e cicatriz contam a história de alguém que lutou e venceu. Mais que isso, minha jornada me trouxe duas incumbências: inspirar outras pessoas, mostrando-lhes que, com a graça de Deus, podemos ir além das possibilidades e auxiliar os que vivem em condições semelhantes às minhas, ajudando-os através de uma ONG, recém-criada, com o propósito genuíno de facilitar a vida da PcD e os processos de reabilitação.
Recomeçar não é fácil. É um desafio que exige coragem e determinação para seguir em frente. Os médicos haviam me dado apenas uma noite de vida, todavia Deus, em sua infinita bondade, concedeu-me um novo começo. Um verdadeiro milagre que até hoje é inexplicável aos olhos humanos.
Se você passou ou está passando por algum momento desafiador, encare-o como degraus para algo maior. Deixe o lugar de lamentação para abraçar as novas oportunidades que aparecem.
Hoje, como mulher, como profissional e como pessoa com deficiência, trago na bagagem experiências que me ensinaram a ressignificar a dor e a transformá-la em propósito. A deficiência me mostrou que a felicidade não está em como somos vistos, mas em como escolhemos viver.


