
Pastora Vanessa Viegas
Instagram: @vanessaviegassilva
Desde o teste positivo até o dia em que meu esposo faleceu, foram apenas 20 dias. Foi um mês de junho sombrio para nós. Foram dias intensos, de más notícias, piora dos sintomas, dias de angústia, desespero e muita, muita oração. Clamei desesperadamente várias vezes pela cura, mas ela não veio. Disse ao Senhor que não saberia viver sem ele, afinal tínhamos acabado de completar 25 anos de casados. Chorando, pedi a Deus que poupasse minha família do pior. Ele não poupou.
Desde menina, eu amo estudar a Bíblia. Então já havia lido sobre os atributos de Deus. Desde o momento que Deus levou meu esposo até agora. em que estou escrevendo, eu aprendo sobre a soberania de Deus de forma prática
Ouvir a notícia de seu falecimento foi terrível. Eu tinha a sensação de um nada me envolvendo, um sentimento nunca experimentado, um vazio que tomou conta do meu coração. Abracei meus filhos naquele momento, ajoelhamo-nos e oramos, reconhecendo nosso Deus como o pai e marido que nos faltava. Dissemos ao Senhor com uma voz mergulhada na dor: “O Senhor deu, o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor”. Foi fácil? De jeito nenhum, mas era nossa maneira de dizer a Deus que nós nos submetíamos a sua soberana vontade, que não abandonaríamos a fé, na qual nossa casa estava firmada. Nos dias que se seguiram, a dor foi aumentando de intensidade conforme a rotina nos lembrava da presença doce, alegre e confiante que meu amado esposo tinha. Um simples cafezinho me arrancava lágrimas, a saudade da sua voz confortante e de sua sabedoria para tomar decisões difíceis me fazia muita falta, pois agora eu estava diante de muitas decisões a serem tomadas.
Liderávamos juntos uma igreja aqui em Campo Grande. Com a sua morte, nossa igreja entrou em crise e eu estava muito abalada para fortalecer outras pessoas. Porém, um dia, em oração, me lembrei de Daviem Ziclague Cansado da guerra, ele chegou em sua casa e tudo estava queimado, saqueado, sua família e todos os seus amigos tinham sido levados cativos. A Bíblia diz que Davi chorou até não ter mais forças seus amigos culparam-no pelo que tinha acontecido e queriam apedrejá-lo Mas Davi se renovou no Senhor, seu Deus Eu me sentia assim, cansada da guerra contra a Covid, com uma igreja em crise, decisões difíceis a serem tomadas, enfrentando inúmeras burocracias, sendo abandonada por quem eu confiava, chorando ate não ter mais forças. Então, resolvi me fortalecer no Senhor. Fizemos trinta dias de jejum em setembro, buscando a direção de Deus para nossa casa e Deus nos respondeu. Eu queria deixar a igreja, ir embora para perto de minha família em Dourados, mas o Senhor nos direcionou a ficar, a encarar. Colocou ao nosso lado pessoas incríveis. Minha irmã e meu cunhado nos assumiram como se fossemos filhos deles e mesmo morando em outra cidade, vinham todo o final de semana para Campo Grande a fim de ficar conosco. Ajudaram-nos a cuidar da igreja até que outro pastor veio para nos auxiliar. E, assim, aos pouquinhos, as coisas foram entrando no lugar.
Achei que não sobreviveria sem meu esposo comigo, mas já passaram quase oito meses e eu estou continuando a caminhada Existe vida após a morte para quem fica e essa vida nós encontramos em Jesus. Ah, se não fosse o Senhor ao nosso lado nas longas horas de madrugada sem conseguir dormir de saudade nos finais de tarde quando lembro que tomávamos nosso cafezinho com pão- de-queijo e conversávamos sobre o futuro… se não fosse o Senhor, eu não teria sobrevivido.
Superei o luto, a perda e a ausência? Não, definitivamente não! Ainda choro todos os dias, mas também não estou estagnada. Ainda que com passos pequenos e pequenas pausas, vou prosseguindo, usufruindo o legado que ele, como homem de Deus e coração igual ao coração de Jesus, nos deixou.
A saudade será breve, porque há uma eternidade me aguardando e lá nos reencontraremos, sem luto nem pranto nem dor, pois essas coisas terão passado.Apesar do futuro ainda estar nublado vou continuar servindo a Deus que, um dia, me chamou e tem me capacitado.
