
Por: Luci Perez Barrozo
@luciperez83
Sou portadora de distrofia muscular de cinturas, patologia genética, progressiva, degenerativa, que afeta os músculos do corpo. Recebi o diagnóstico em 1988, aos 25 anos e, hoje, tenho 60 anos. Medo, expectativa do futuro, tristeza, esses sentimentos me deixaram sem chão. “Levanto os meus olhos para os montes e pergunto: “De onde me vem o socorro?” (Salmos 121:1). Escolhi enfrentar a jornada junto com Jesus, minha melhor escolha. Ele sempre coloca pessoas para cuidar de mim, me ajudar em tudo o que eu preciso.
No mesmo ano em que recebi o diagnóstico, 1988, passei no concurso de professora de Educação Infantil na Prefeitura Municipal de Marília, atuando 21 anos em sala de aula e 4 anos na secretaria da escola devido à evolução da doença. Amava dar aulas e fui muito feliz na profissão. Nessa caminhada, tive o privilégio de colaborar na área de ensino da Igreja Evangélica das Nações (IEN). Fui líder do grupo King’s Kids de crianças e adolescentes e participei como voluntária do ensino religioso em uma escola de ensino fundamental. Grande privilégio poder ensinar a Palavra de Deus à nova geração. Atualmente os meus adolescentes, a maioria deles, estão casados e com filhos. Recebo mensagens de amor e carinho me dizendo o quanto foi bom servir a Jesus juntos para a extensão do Seu Reino.
Em 2019, precisei mudar repentinamente para Piracicaba. Uma situação muito dolorida já que requeria deixar a minha vida em Marília, família, desmontar a casa, vender o carro е, paralelamente a isso, meu quadro foi- se acentuando. Fui perdendo a autonomia para fazer tarefas simples e, com meus movimentos comprometidos, fiz uso da bengala, andador e atualmente na cadeira de rodas. Eu teria de não iria aguentar. Mas, só parecia. Coloquei tudo isso para Jesus e, a cada dia, recebo misericórdia, graça e força para continuar.
Quando estava acostumando com a nova realidade, recebi, em 2021, um diagnóstico de câncer de mama. Muitas perguntas surgiram: “Deus, como vai ser agora? Como vai ser o tratamento? Se o meu cabelo cair? Meu acesso venoso é ruim! Como será? Já tenho distrofia e vem agora outro gigante? Socorro, Deus! Socorro, Deus! Socorго, Deus!”
Algumas noites sem dormir e muito choro aos pés de Jesus. Ele sempre me lembrando do texto de Mateus 28:20b: “… eu estarei sempre com vocês até o fim dos tempos”. O socorro veio. Deus preparou uma excelente equipe médica. A minha irmã Roseli, que mora em Piracicaba, me levava nas consultas e exames. A minha família, a família da fé e as amigas (os) me carregaram no colo com suas orações.
Fiz a mastectomia da mama esquerda. Não precisei fazer quimioterapia nem radioterapia, mas somente tomar medicação via oral durante cinco anos. Glória a Deus! Depois disso, escolhi morar no Felicitá, um residencial para idosos em Piracicaba, onde recebo das gestoras e dos colaboradores, carinho, atenção e todo cuidado necessário para o meu bem estar.
Nesse local, tenho tido a oportunidade de conversar com alguns moradores, ouvir suas histórias, suas queixas, segurar em sua mão, deixar usar meu batom, meu colar, ouvir música, cantar, orar, oferecer o meu ombro e colo para um cochilinho – ações simples que me deixam feliz e fazem toda a diferença na minha vida e na deles também.
Apesar de minhas dificuldades, posso abençoar vidas e seguir a caminhada como serva e adoradora de Jesus. Amar ao próximo é não querer nada em troca, é amar os diferentes, é não desistir de ninguém. O amor restaura, cura, salva. Estou exercitando diariamente a resiliência e enfrentando os desprazeres da vida de cabeça erguida.
A minha oração diária é para que as lutas e as estações de deserto não me destruam, nem me afastem Dele. Muitas setas do mal vêm com fúria nos atingir, pois o fato de permanecer, resistir, crer, nos torna uma ameaça para o reino das trevas. Porém, eu sigo na força de Deus e quero crer até o fim!
“Creio, eu creio até o fim. Creio, aqui não é o fim. E, se não vir a minha vitória aqui, coroa de glória creio é o que me aguarda ali” (Música: “Creio”, de Diante do Trono).

