
Por: Raissa Fernanda Martinez dos Santos
Terapeuta Ocupacional
@rai.gongon
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM 5), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é descrito como “um transtorno de desenvolvimento que leva a severos comprometimentos de comunicação social e comportamentos restritivos e repetitivos que tipicamente se inicia nos primeiros anos de vida.”
Em 2015, durante a escolha do tema do trabalho de conclusão de curso de terapia ocupacional, minha orientadora sugeriu escrever sobre “a inserção do aluno com TEA no ensino regular”, e esse foi o início da minha jornada trabalhando com crianças, jovens e adultos autistas, há sete anos.
Durante esses anos, nessa área, ouvi frequentemente: “O autista vive no mundinho dele”, porém essa é uma frase errônea, pois a verdade é que a pessoa com autismo vive no mesmo mundo que o nosso, mas o sente de uma maneira diferente. Isso impacta a forma de ela se socializar, de se comunicar como outro e de se comportar diante dos diversos estímulos, indivíduos e atividades do seu cotidiano. Por essa razão, a conscientização de todos ao redor é de suma importância para que as pessoas autistas possam se incluir na sociedade, desenvolver-se a partir dos estímulos e adaptações necessárias e assim ter qualidade de vida.
Durante essa jornada, os familiares possuem um importante papel que é acreditar na potencialidade de seus filhos e a palavra resiliência se torna importante dentro desse contexto. Diante do diagnóstico é comum os pais passarem por um momento de medo e incertezas com relação ao futuro da criança, indagando se ela irá se desenvolver como as demais, e a resiliência é fundamental para que, após esse primeiro momento, consigam respirar fundo e então iniciem uma nova fase em que cada conquista, por menor que pareça ser, se torne uma grande vitória. Situações como: ver a criança brincando com os colegas, ouvir suas primeiras palavras independentemente da idade que possui, ou, caso não haja fala, vê-la se comunicar através de imagens (comunicação alternativa) indicando o que deseja e ser independente nas atividades do dia a dia como escovar os dentes, tomar banho, se vestir, são progressos que devem ser reconhecidos. A resiliência possibilitará a perseverança para os dias difíceis e a alegria de observar o quanto se caminhou até o momento e quantos desafios foram vencidos, com um passo de cada vez.
O diagnóstico na primeira infância (de 0 a 6 anos) é de suma importância, pois é, nesse período, que ocorre o desenvolvimento de estruturas e circuitos cerebrais, como também a aquisição de capacidades fundamentais que permitirão o aprimoramento de habilidades futuras mais complexas. Por essa razão, a intervenção precoce é relevante para a aprendizagem de habilidades. Diante disso, é importante estar atento a alguns sinais perceptíveis em autistas:
• Têm dificuldade em manter contato visual.
• Não olham para objetos quando os pais apontam.
• Não conseguem discernir o que as pessoas estão sentindo, por meio de suas expressões faciais.
• Não apontam para objetos quando querem algo ou quando querem compartilhar com outras pessoas.
• Repetem o que os outros falam sem entenderem o significado (ecolalia).
• Não respondem quando os chamam pelo nome, mas podem reagir a outros sons (como a buzina de um carro).
• Não iniciam ou dão continuidade a uma conversa.
• Balançam ou giram o corpo, andam na ponta dos pés por muito tempo ou agitam as mãos.
• Gostam de rotinas, ordem e rituais; têm dificuldade com a mudança ou transição de atividades.
• Brincam com parte dos brinquedos (por exemplo, giram as rodas de um carrinho).
• Podem ser muito sensíveis a cheiros, sons, luzes, texturas e toque.
Se você percebe alguns desses sinais em seu filho, procure um médico especialista que possa avaliá-lo e, caso haja necessidade, recorra a uma equipe multidisciplinar com: terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo entre outros profissionais de acordo com as dificuldades e atrasos apresentados.
É importante frisar que o diagnóstico não é um rótulo ou um atestado de incapacidade, mas sim uma luz para iluminar o trajeto, mostrando qual o melhor caminho a seguir. Uma das frases que trago como referência para minha atuação diária é: “Se eles não aprendem do jeito que nós ensinamos, nós ensinaremos do jeito que eles aprendem.” (Ivar Lovaas).

