
Maria Aparecida de Oliveira
Vendedora autonoma
IEN Zona Norte
Tenho 68 anos, casei-me aos 19 anos e, com 47 anos, meu marido tomou a decisão de se separar de mim; neste momento, estava com três filhos casados e o caçula com 10 anos.
Durante o tempo em que estive casada, eu era totalmente dependente do meu marido. Tudo era feito por ele, até as coisas para mim era ele que decidia o que comprar e quando comprar. Não tinha autonomia para nada. Isto acontecia por me sentir incapaz de fazer alguma coisa por mim mesma e por minha casa e família.
Com a separação, passei grandes e terríveis dificuldades, pois não trabalhava, não tinha profissão, não tinha ajuda financeira do pai dos meus filhos, não tinha onde morar e fomos despejados da casa onde vivíamos por falta de pagamento. O que eu tinha era desespero por passar humilhação e o pior era ver o meu caçula sendo privado de tudo de que uma criança necessitava.
Eu desejava ter paz, alegria, esperança, acreditar em dias melhores. Mas, ao mesmo tempo, tudo parecia impossível – a situação real era desanimadora e desesperadora. Sim, fui ao limite do desespero.
Morávamos, ora na casa de um filho, ora na casa de outro e eles me ajudava como podiam.
O tempo passando e a situação se mantendo a mesma. Durante essa caminhada, meu caçula, com 12 anos, conhece a Igreja Evangélica das Nações. Eu o acompanhava nos cultos, pois tínhamos só um ao outro.
Certo dia, fui convidada para vender uma rifa, cujo ganhador receberia um urso como brinde. Como eu gostaria de obter o urso, peguei a rifa pelo brinde. Vendi e consegui o urso de presente. Foi-me oferecida novamente outra rifa, mas algo havia me chamado a atenção: eu venderia e, ao invés de ganhar o brinde, poderia receber o valor em dinheiro. A mesma pessoa da rifa me trouxe algumas roupas infantis para vender e assim fiz. Aos poucos, as vendas foram aumentando, mas ainda continuava vivendo com a ajuda de meus filhos.
Com as vendas, tirava o que precisava e guardava um pouco, mesmo as quantias mínimas. Diante da minha situação vulnerável, sem ter uma casa para morar, meus filhos decidiram fazer dois cômodos no fundo da casa da minha filha onde eu e meu caçula pudéssemos ter um lugar só nosso.
As vendas foram se ampliando, saía com sacolas de roupas de casa em casa. Tinha o meu horário da manhã até a tarde, com intervalo para o almoço. Neste tempo, a palavra de Deus começou a me mostrar que algo deveria mudar. Passei a ouvir as pregações de maneira diferente e percebia que tudo aquilo que ouvia falava muito da minha vida e de como estava vivendo.
Interessei-me mais e mais e comecei a sentir alegria e esperança que chegavam através das pregações. Deus entrou em meu entendimento e, em um culto abençoado, eu o aceitei na minha vida. Agora, não ia somente como companhia para o meu filho, mas porque queria este Deus mais e mais e adorá-lo.
Vivi nessa realidade por mais dez anos, fazendo minhas vendas, usando o necessário e reservando tudo que podia. Porém, ainda morava no fundo da casa da minha filha e o meu caçula, um jovem de vinte e dois anos.
Entendi de Deus que havia chegado o momento de dar um passo de coragem na minha vida. Eu era uma pessoa diferente, havia vencido muitas dificuldades e, com a chegada de Deus na minha vida, novos horizontes também chegaram.
Entendemos que era a hora de procurarmos uma casa e assim o fizemos. Esta casa estava reservada para nós no mesmo bairro em que morávamos, próxima da nossa Igreja e dos meus clientes.
Com a economia conseguida ao longo desses anos, paguei o valor que me foi pedido pelo proprietário e assim o grande sonho foi realizado. Finalmente comprei a minha casa: eu e meu filho agora tínhamos o nosso lugar. Reformei-a e nela própria tenho minha loja com roupas e cosméticos. Continuo com as vendas, mas de uma maneira mais tranquila, pois agora muitos dos meus clientes vêm até mim. Meu filho também fez faculdade.
Hoje, eu vejo e reconheço como Deus me acompanhou todo este tempo. Como ele me orientou e me capacitou, quando eu mesma não via nada em mim que pudesse dar certo. Mesmo não vendo luz no final do túnel, ela estava lá e ela era Jesus.
Os dias de sol, chuva, frio e as dores no ombro, devido o peso da bolsa, me ensinaram o quanto Deus é bom e ajuda quem persevera.

