
Alessandra Marlyn Remi | Instagram: @alessandramarlyn
Sou Alessandra. Tenho 47 anos. Cresci vivenciando crises entre meus pais, devido ao uso abusivo de álcool por meu pai. Era uma adolescente complexada. Cheguei cogitar tirar minha vida para acabar com o sofrimento. Aos 14 anos, fui a uma igreja a convite de vizinhos e Jesus me alcançou, dando um novo sentido à minha existência. Depois, meus pais também conheceram a Cristo e suas vidas foram transformadas.
Aos 23 anos, conheci o Rogério, recém-chegado de uma casa de reabilitação para dependentes químicos. Casamo-nos em 2001 e tivemos dois filhos: Ana Beatriz e Rafael. Ele se tornou sócio de uma loja de revenda de veículos usados. Deus o prosperou, tornando-o um hábil negociante. Porém, ele começou a frequentar, sozinho, churrascos com “amigos”, distanciando-se dos caminhos de Deus, até que começou sentir fortes dores no estômago. Ao fazer uma endoscopia, constatou-se um tumor maligno. Retirou parte do estômago e iniciou o tratamento. Meus pais ajudavam cuidando das crianças. Ele melhorou, nossa vida voltou ao normal, porém, a doença avançou para o intestino, depois para outros órgãos e para os ossos, vindo ele a óbito. Mal eu tinha superado o luto por meu pai, falecido havia pouco tempo por problemas cardíacos, agora eu estava sem meu companheiro, provedor e pai de meus filhos. Aos 37 anos, viúva e com dois filhos: um com 9 e outro com 7 anos.
Tive que aprender a recomeçar. A solidão era enorme. O medo do futuro me aterrorizava. A vida não tinha parado, as crianças precisavam ir à escola, as contas chegavam, eu precisava retornar ao trabalho, mas sentia muita falta do Rogério. Eu não tinha as mesmas habilidades dele e me sentia frustrada. Minha autoconfiança ficou abalada.
Foi um processo de adaptação difícil. Ver meus filhos sofrendo era o que mais me afligia e eu não tinha como tirar aquela dor do coração deles. Fiquei sabendo que meu filho, na escola, estava chorando. Isso me deixou mais fragilizada ainda, mas eu precisava continuar.
O inventário de meu marido precisava ser providenciado e alguns negócios concluídos, porém eu não tinha nenhuma familiaridade com aquela atividade que ele exercia. Muitos clientes eram grosseiros. Ao tentar receber uma dívida, disseram-me: “Morto não recebe!!! Não vou pagar no cemitério!!!” Eu precisava quitar financiamentos de carros e empréstimos em bancos. Tudo isso gerou um quadro de hipertensão e ansiedade em mim.
Precisei de um tempo para compreender quem eu era naquele momento. Não se tratava apenas da perda da pessoa amada, mas também da necessidade de aprender a lidar com todas as consequências dessa perda. Precisei ressignificar meu papel de mãe para criar meus filhos sozinha. Tornei-me provedora do lar. Com o tempo, consegui assumir o controle das coisas e me sentia melhor. Com objetivo de retomar minha vida, voltei a estudar. Fiz mestrado e fui contemplada com uma bolsa de estudos para um curso em Portugal. Entretanto, minha restauração não foi automática. Passei por um doloroso processo de superação do luto, que durou sete anos.
Um vazio enorme me invadia nas datas festivas. Em um réveillon, durante a pandemia, uma amiga me vendo muito triste brincou comigo: “Vou te apresentar alguém!” Não levei a sério e, quando me dei conta, ela me colocou para falar com o Emerson no celular. No dia seguinte, conhecemo-nos pessoalmente e ele contou sobre a dor da separação, que também havia enfrentado. Tínhamos histórias de dores e enfrentávamos nossos medos. Meses depois, começamos a namorar. Após uma luta contra o câncer, minha mãe também faleceu e o Emerson me apoiou muito nesse momento.
Finalmente, casamo-nos e Deus me concedeu a oportunidade de recomeçar um novo tempo. O Emerson me trouxe uma alegria que eu não sentia há muito tempo e a sensação de ser amada novamente. Chamo o Emerson carinhosamente de tesouro, porque encontrei uma pessoa paciente, sábia, trabalhadora, um verdadeiro tesouro de grande valor, com o qual fui presenteada por Deus. Ele me ajuda a cuidar de meus filhos, hoje com 18 e 19 anos. Aprendi a confiar na soberania de Deus nos momentos mais difíceis da minha existência. Deus me deu forças e a chance de construir uma nova história.

