
Crislei Souza
@crisleiy.gomes.733
Meu nome é Crislei. Tenho quarenta e seis anos e sou missionária da JOCUM (Jovem com uma Missão) há vinte e dois anos. Minha jornada é uma tapeçaria de cicatrizes e cada marca conta uma história de fé e coragem.
A primeira ferida se abriu quando eu tinha seis anos e fui vítima do abuso de um tio por dois anos seguidos. Perdi minha identidade em Deus e me tornei uma adolescente rebelde com tendências ao lesbianismo. Por ser de uma família cristã e ter um pai que sempre me levava à igreja, fui tendo consciência de que estava vivendo em pecado e que isso me afastava de Deus. Aos poucos, fui me aproximando dele e crendo na minha vitória.
Aos vinte e quatro anos, sofri um acidente de carro que me deixou um ano aproximadamente sem poder andar e me trouxe sequelas e traumas. Tentei dar fim a minha vida, pois nem os médicos acreditavam que eu pudesse andar normalmente. Porém, arrependida e disposta a servir a Deus, fiz um pacto com Ele, prometendo cumprir o meu chamado de missões, se Ele me restaurasse.
Em 2002, ingressei na escola de missões na JOCUM do Paraná. Ali encontrei a força para perdoar meu tio, vencer o trauma do acidente, receber a cura da minha perna esquerda que havia ficado menor que a direita e, assim, as cicatrizes foram se transformando nas mãos de Deus.
Essas experiências me trouxeram esperança e renovo. Hoje, dou aula nas escolas de missões, fui restaurada, renovada e liberta por Deus para ajudar aqueles que estão passando pelas dificuldades que passei.
Aos vinte e nove anos, meu coração encontrou o amor do Cristiano, meu esposo. Através dele, Deus me curou dos traumas que ainda persistiam em bloquear a nossa união conjugal. Foram muitas feridas, mas o bálsamo do Senhor nos trouxe alívio e cura. As vitórias não pararam aí; mesmo após os médicos terem dito que eu não poderia ter filhos, fomos presenteados com dois milagres: Caio, hoje com quatorze anos e Samuel, com nove anos.
Em janeiro de 2023, durante a realização da escola missionária de férias, Deus me revelou em sonho que recolheria alguém ao meu lado. Desesperada, fui contar ao meu marido, que me respondeu: “Se Ele disse, precisamos estar preparados em todo o tempo”.
Dezesseis dias após essa visão, meu amado esposo estava trocando peças do motor do nosso carro, que permanecia suspenso sobre duas pilastras quando, de repente, o carro caiu sobre ele. Meu filho mais velho, que estava mais próximo, escutou um grito do pai e, quando se aproximou, ouviu suas últimas palavras: “Deus, tenha misericórdia da minha vida”, presenciando seu último suspiro. Assim que o carro foi retirado, tentaram reanimá-lo, mas não havia mais fôlego de vida.
Passamos momentos terríveis, mas Deus nos levou a pensar que poderia ser pior se ele conseguisse sobreviver carregando as muitas sequelas que aquele acidente poderia lhe causar. A morte foi por asfixia pulmonar, pois o motor do carro caiu no peito dele.
Com o passar dos dias, o processo de frutificação das sementes começou. O primeiro foi minha sogra, que recebeu Jesus em seu coração; depois meu irmão que voltou para Deus, alguns líderes da Jocum falaram sobre o legado que meu esposo tinha deixado, as pessoas me paravam para contar o quanto ele tinha sido usado ao lhes falar do amor de Deus.
Tem sido um ano de luto, mas, também, de muita provisão de Deus. Não tem nos faltado nada. Deus falou que meus filhos teriam o melhor estudo. E assim aconteceu: neste ano, eles estão estudando em uma escola particular, sem precisar pagar mensalidade, pois recebemos 100% de bolsa de estudo.
Por trás de todas as marcas, aprendemos a depender totalmente de Deus. Essa história é uma prova viva de que, por mais profundas que sejam as cicatrizes, Deus as transforma em instrumento de cura. Em cada batalha, descubro uma força interior que só Ele pode nos proporcionar. Minha mensagem é clara: por trás das cicatrizes, renasceu uma família dependente de Deus, pronta para compartilhar o poder da superação, da fé e da alegria.

