
Léo Alves
@leo.alvesoliveira
Escrever sobre o dia vinte e nove de maio de 2016 é uma experiência desafiadora porque, nesse dia, meu casamento chegou ao fim após dezenove
anos, cinco meses e um dia de duração.
O divórcio abriu uma terrível ferida.
Como todos os seres viventes, eu tenho cicatrizes – marcas da vida. Em 1994, eu perdi minha mãe para o câncer e, até aquele momento, aos dezoito anos de idade, tinha sido minha experiência mais devastadora. Mas, Deus ministrou o meu coração, consolando-me e me lembrando de que eu não tenho controle sobre os fatos e não poderia interferir naquela circunstância. Acreditei que, após isso, nada mais me abalaria, mas estava muito errado.
A experiência do divórcio me trouxe muita culpa e vergonha de uma forma que nunca tinha experimentado.
Eu era pai, filho, irmão, amigo, pastor… que fracassou no casamento.
Como encarar todos? O que dizer a eles? O que irão dizer? Serei rejeitado? O divórcio era uma ferida aberta, e ninguém gosta de ferida, especialmente o ferido.
Ao olhar para minha infância, lendo aventuras e conquistas, e depois conhecendo os valentes e honrados homens e mulheres da Bíblia, desejava ser um deles. Infantil? Talvez. Mas, tenho apego aos heróis honrados e altruístas, aqueles que se lançam diante do perigo e se sacrificam pelo ‘bem maior’. E eu era o fracasso.
Portanto, aos quarenta anos, eu tinha uma ferida aberta – estava divorciado. Nos primeiros dias, semanas e meses, eu me afastei das pessoas, escondi-me dentro de mim e flertei com a morte. Porém, contrariando minhas expectativas, enquanto eu desistia de viver e fugia, fui acolhido por muitos de maneira surpreendente. Achei que seria julgado, expulso e abandonado, mas fui amado. Feridas que recebem cuidados cicatrizam mais rápido.
O cuidado obtido foi fator imprescindível para a cura de minha alma. Minha família e amigos ouviram minhas angústias e tiveram paciência comigo. Também a igreja foi fundamental e cuidou de mim de muitas formas. Ela me suportou em amor, cozinhou para mim,ministrou meu coração, lavou minha roupa e, entre tantas ações, me amou. Assim, a ferida, que ainda doía muito, ia sendo cicatrizada.
Aos poucos, fui compreendendo que cicatrizes não se formam em mortos, mas em quem sobrevive. E eu estava vivo e poderia prosseguir meu caminho e ressignificar a minha dor. O divórcio me forçou a ver a vida em outra perspectiva, e escolhi não ser o escravo da situação, mas viver como filho de Deus.
“Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro”. Gálatas 4:7
Eu não sou o fracasso e nem um fracassado. Sou filho amado e pertenço a um Pai que pode, mesmo na tormenta, nos dar paz e guardar a nossa mente em Cristo.
Quem vive um tremendo sofrimento pode sucumbir ao desespero de achar que não há mais saída, nem futuro, nem esperança. Mas Deus pode mudar nossa visão, nossa percepção, nossas expectativas e nos dar uma alegria sobrenatural, que esteja acima de todas as circunstâncias, porque não estão circunscritas a elas, mas ao seu divino amor.
As minhas cicatrizes são a camada superficial e visível, que expõem as circunstâncias dolorosas e pouco prazerosas da minha existência, porém, por trás delas, há superação, fé e vitórias conquistadas. Elas revelam como Deus, em meio às dificuldades, agiu em minha vida, moldando e fortalecendo o meu caráter e me permitindo partilhar a esperança. Eu não queria ter passado por tudo isso, mas palmilhar esse caminho propiciou-me fazer uma reflexão mais profunda sobre mim e sobre a minha fé em Deus.
As cicatrizes que carrego são batalhas que travei e vitórias que alcancei. Não sou um dos heróis e valentes que admirava, porém sou um homem que não desistiu da vida. Caminho debaixo da graça de Deus. E, vivo um dia de cada
vez, depositando minha fé naquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que posso pedir, sentir ou imaginar.
Foi uma árdua jornada de cura e transformação, que me deixou mais resiliente.

