
Dr. Augusto Cury
Idealizador do programa de prevenção de transtornos emocionais e pensamentos suicidas
Existe um fenômeno no cérebro chamado de RAM (Registro automático da memória), que é inconsciente. Ele arquiva tudo sem autorização do seu “eu”, que representa a capacidade de escolha, a autodeterminação, a consciência crítica. Portanto, sem autorização do “eu”, a cada momento o fenômeno RAM, o biógrafo do cérebro, está arquivando pensamentos que tanto promovem a vida quanto que vão contra a existência.
Portanto, cuidado quando o biógrafo registra experiências traumáticas, pensamentos perturbadores, rejeições, críticas, ofensas, exclusões, pois elas se tornam janelas “Killer”, núcleos traumáticos.
Nós não conseguimos deletar a nossa memória, mas temos que conviver com os nossos fantasmas mentais e domesticá-los, ou seja, reeditá-los através de uma técnica poderosa de gestão da emoção, que se chama DCD (duvidar – criticar determinar).
Você deve duvidar de todo pensamento perturbador, suicida, de ideias de que não vale a pena viver. Duvide, sem que ninguém esteja ouvindo. Por exemplo: se alguém o abandonou e você se sente o último ser humano, traído, ferido e não compreendido, você deve duvidar de que não conseguirá sair desse relacionamento mais forte. Aliás, você tem de proclamar: “Você me abandonou, mas pode ter certeza de que agora é que eu serei mais feliz. Quem perdeu foi você e não eu”.
Quando o seu “eu” resolve sair da condição de crer nas falsas crenças para duvidar de tudo aquilo que o controla, você nunca mais será o mesmo. Se vier um pensamento de que você não tem beleza física, você tem de duvidar desse padrão. “Por que eu deveria ser escravo do padrão tirânico de beleza?” Não existe nada que conta mais mentiras do que uma mente não gerenciada pelo “eu”. Então, duvide de todas as mentiras que transitam na sua mente.
Quando você usa a crítica, o seu “eu” ganha musculatura. Critique os pensamentos perturbadores, os medos; critique que você não é uma pessoa amada e querida; critique que você não conseguirá dar a volta por cima porque está no fim da linha. Critique o seu “eu” frágil, o seu “eu” inseguro, coitadista.
Você não apenas tem de duvidar, criticar, mas também decidir gerir a sua emoção, decidir se reinventar, decidir transformar traições, abandonos, frustrações, fracassos na capacidade de ser um ser humano muito mais bonito, saudável e inteligente. Quando vier um pensamento suicida, uma ideia de que você não tem solução, você deve duvidar desse pensamento. Também criticar essa falsa crença. Critique esse “eu” frágil que não se reergue diante do caos e decida mudar a sua própria história.
Quando o mundo desabar sobre você, decida ser o gestor do veículo da sua emoção. Duvidar – Criticar – Determinar. Porque pensamentos suicidas são autoritários, sentimentos de culpa e autopunição são agressivos. Portanto, você não pode ser carinhoso contra os seus carrascos, você tem de reciclá-los.
Quando uma pessoa pensa em morrer, ela está dentro de uma janela “killer”, um cárcere mental que não são verdades e sim, falsas crenças. Por que você não usa o seu “eu” para abrir as grades dessa janela “killer” através da técnica do DCD? Ela abre as comportas dos cárceres ou dos presídios mentais para que você possa reescrever a sua história.
Você não imagina o poder que o seu “eu” tem quando ele deixa de ser um espectador passivo, tímido, frágil, na plateia da sua mente e entra no palco e começa a gritar: “Eu posso ser líder de mim mesmo. Eu posso me reinventar, porque eu não sou mais um número na multidão; porque eu não sou mais um cartão de crédito; porque eu sou um ser humano insubstituível”.
Outro fenômeno importantíssimo é a auto cobrança e a autopunição. Nós podemos ter um gerente aqui, na nossa mente, doentio, que todos os dias nos pune quando nós erramos, quando nossas palavras não saem adequadamente, quando não conseguimos brilhar em algumas atividades. Cuidado! A autopunição e a auto cobrança nos tornam carrascos de nós mesmos, faz do nosso viver a síndrome predador/presa e ao nos cobrarmos, punirmos, nos tornamos a nossa própria fera.
Por isso, por favor, quando você pensar em asfixiar a sua vida, o seu “eu”, na verdade, deve asfixiar a sua dor, os seus pensamentos perturbadores. Quando você pensar em ferir o seu corpo, o seu “eu” tem de usar o poder dele não para matar as suas células, mas para discordar de cada pensamento perturbador, de cada pensamento suicida, de cada ideia de que não vale a pena viver a vida.
Na matemática numérica, se você divide, você diminui. Porém, sob o ângulo da gestão da emoção, quando você divide, você aumenta. Quando você divide seus pesadelos, você aumenta a capacidade de superação. Quando você divide os seus problemas, os seus conflitos, as suas crises, você dá mais musculatura para o seu “eu” se tornar autor da sua própria história. E, ao fazer isso, você elabora mais a sua experiência. O monstro que está dentro de você, deixa de assombrá-lo e você começa a domesticá-lo.Lembre-se: você quer sempre viver! Você tem fome e sede de se reinventar. Você tem uma biografia genética borbulhante, encantadora que indica que há um desejo incontrolável para continuar a sua existência.
