
Luciana Z. Handa
Psicóloga/coordenadora do grupo de prevenção ao suicídio de Marília – SP
Sempre sou convidada a falar ou escrever sobre a Prevenção ao Suicídio. Atuo como psicóloga clínica e coordeno o Grupo de Prevenção ao Suicídio de Marília, onde tenho oportunidade de estar ao lado de pessoas que, em sua maioria, já desistiram de buscar ajuda para suas necessidades e dores.
Gosto de definir o fenômeno “Suicídio” como um ato de comunicação do sujeito que experimenta uma dor, angústia ou sofrimento e que, por vezes, não consegue expressar isso em vida e acaba por fazê-lo através de um ato impulsivo: “a morte”, sem solicitar ou obter nenhum tipo de ajuda. Se entendemos que o Suicídio é um ato de comunicação, podemos concluir que o acolhimento e a escuta ofertados de forma empática e não julgadora podem ser meios efetivos de prevenção desse ato que vem de forma avassaladora atingindo pessoas e famílias pelo mundo a fora.
Quando falo em acolhimento e escuta, gosto de destacar dois movimentos para essas ações: o primeiro em direção às nossas próprias dores, e o segundo em direção à dor do nosso próximo (que pode ser pai, mãe, filhos, amigos, parentes, colegas de trabalho, transeuntes, moradores de rua, etc).
Sabemos que o problema é multifatorial, não tendo somente uma causa específica para explicá-lo. Decorre de fatores psicológicos, emocionais, familiares, financeiros, biológicos, sociais, espirituais e culturais. Diante disso, todo ser humano pode um dia pensar em desistir, já que a essas intempéries todos nós estamos sujeitos. Identificar os fatores de risco pode facilitar a ajuda específica, a saber: pessoas que apre- sentam ou sofrem com transtornos psiquiátricos, isolamento social, impul- sividade, agressividade, abuso sexual, tentativas de suicídio anteriores, sui- cídio na família, conflitos familiares, separação, luto, desemprego, dívidas, doenças terminais ou inca- pacitantes, uso de álcool e drogas, entre outros.
Atuando com pessoas em sofrimento emocional e psíquico, aprendo que as adversidades, as perdas, os lutos, as dores, os traumas, as alegrias, as tristezas precisam, sim, ser encaradas e vivenciadas com toda intensidade para que se chegue à sua ressignificação, já que por ser um tema eivado de tabus e preconceitos, as pessoas em sofrimento podem se fechar diante de algo tão sério e que poderia até ceifar suas próprias vidas.
Precisamos nos conscientizar de que o sui- cídio está cada vez mais próximo de nós e que não escolhe cor, raça, nível social e econômico, idade, etc. Entre os jovens de 15 a 29 anos já é considerado a segunda causa de morte, ficando atrás somente das mortes por acidente de trânsito.
Ter uma atitude direta de acolhimento e escuta sem preconceitos ou julgamentos pode ser um canal para a pessoa se abrir e se sentir mais compreendida, resultando assim na busca por tratamento adequado com profissionais da psicologia e psiquiatria.
Somente com atitudes de amor e acolhimento poderemos “guardar” vidas, poderemos ser “gente boa no mundo” como Jesus foi ao caminhar por aqui, com olhar sensível e atento, com ouvidos abertos e mãos disponíveis para agir em direção daqueles que sofrem e que muitas vezes já desistiram da caminhada.


