Depressão: A Doença da Alma

Por: Dra. Andrea Midori Simizu Lopes   Psiquiatra, professora da Faculdade de Medicina de Marília e palestrante. A depressão é […]

Por: Dra. Andrea Midori Simizu Lopes

 

Psiquiatra, professora da Faculdade de Medicina de Marília e palestrante.

A depressão é considerada por muitos a doença do século, porém vem acompanhando a humanidade desde seu início. Por ser uma doença em que a maioria dos sintomas é emocional ou comportamental, muitas vezes é confundida com tristeza, preguiça, falta de vontade ou de fé, às vezes, o deprimido se conforma com seus sintomas, negligenciando mais ainda sua saúde física, mental e emocional.

É uma doença democrática: atinge qualquer um, em qualquer idade, de qualquer sexo, classe social e profissional. Porém tem algumas preferências: mulheres, adultos jovens e profissionais com trabalhos estressantes (professores, policiais, profissionais da saúde, etc.) que apresentam uma prevalência maior que o restante da população. Na prática, a maioria dos pacientes nos procura com um quadro que se iniciou após algum estresse intenso (luto, conflitos familiares ou no trabalho, doenças), que causou sintomas que perduraram por mais tempo que o normal ou iniciou prejuízos em sua vida. Após o evento inicial que funcionou como seu gatilho, a doença se torna muitas vezes crônica e passa a se manifestar independente de eventos da vida, podendo retornar mesmo em períodos de tranquilidade. 

O Transtorno Depressivo vai muito além da tristeza normal, que pode ocorrer a qualquer um de nós. Enquanto esta é um sentimento normal, que nos demonstra e impulsiona a mudar o que precisamos modificar em nossas vidas, a depressão paralisa, pois nos tira a energia, o impulso e a iniciativa.

Desistimos, porque nos tornamos pessimistas, ansiosos e pouco confiantes em nós mesmos. A falta de prazer em atividades nos afasta cada vez mais das nossas fontes de alegria, isolando-nos numa caixa de solidão. Sintomas físicos como alterações de apetite, libido, sono e dores inexplicáveis são comuns e pioram muito nossa qualidade de vida. Os pensamentos se tornam lentos, confusos e é difícil ou impossível tomar decisões. A fadiga intensa e a sensação de esgotamento não diminuem nem mesmo com descanso.

Sentimentos negativos, como culpa, baixa autoestima e raiva podem surgir. Com a evolução dos sintomas, a pessoa começa a ter dificuldades para tomar conta de si mesma, dos filhos, da casa.

Começa a faltar em compromissos sociais, abandona atividades de lazer. Pode ter dificuldades para trabalhar e, em casos extremos, pode não conseguir se levantar da cama. Nos casos mais graves, o paciente inicia ideias suicidas e pode tentar ou cometer suicídio. O número de suicídios vem aumentando de forma alarmante em nosso país, e a depressão já é uma das maiores causas de incapacitação e morte no mundo. 

A grande dificuldade em relação à depressão não é seu tratamento, pois a maioria dos pacientes melhora significativamente com o uso do primeiro antidepressivo que toma. O desafio está na sua detecção. Uma boa parte dos pacientes só procura ajuda psiquiátrica após meses ou anos de sintomas e, muitas vezes, após ter passado por outros profissionais, como psicólogos, médicos clínicos, etc., atrasando muito o início do tratamento medicamentoso. Outros ainda têm muita resistência ao psiquiatra, tachado por tanto tempo de “médico de loucos”, e se recusam a vir, mesmo quando familiares lhes pedem. Há ainda aqueles que confundem a depressão com problemas espirituais e buscam apenas na religião uma solução mágica para os seus sintomas, culpando-se cada vez mais por seus fracassos quando isso não é suficiente.

A depressão possui várias causas e, portanto, necessita de um tratamento completo, em várias frentes e, às vezes, com vários profissionais. Por se tratar de um desequilíbrio químico nas substâncias que controlam nosso cérebro, é imprescindível o uso de antidepressivos ou outras medicações para a melhora da saúde global do paciente. Porém a psicoterapia (tratamento psicológico), a melhora na qualidade de vida (alimentação balanceada, repouso, lazer, atividades prazerosas) e a busca por uma espiritualidade positiva são importantes para o restabelecimento de todas as funções mentais, emocionais, físicas e espirituais. Qualquer uma dessas ações isoladas irá ajudar, porém é a soma de todas elas que poderá trazer a cura ao paciente. 

Vencer essa doença, assim como a maioria das doenças crônicas, é uma ação semelhante a uma longa maratona. Haverá momentos de maior facilidade em que o caminho reto e sem obstáculos facilitará nossa passagem. Haverá também trechos sinuosos e arriscados em que precisaremos de toda ajuda possível. Porém, como toda corrida, essa pode ser vencida com persistência, treinamento e apoio. Se você está correndo sozinho, procure ajuda. Converse com seus familiares sobre como tem se sentido. Consulte um psiquiatra que poderá fazer o correto diagnóstico de seu quadro e iniciar seu tratamento. Mude aquilo que lhe traz infelicidade e aumente o que o faz feliz. Se houver dificuldades nessas mudanças (internas ou externas), procure uma psicoterapia. E, acima de tudo, procure a Deus, pois a fé em algo maior do que nós mesmos e muito maior que a nossa doença, ajuda-nos a perceber que esse momento difícil é apenas uma curva pedregosa num caminho muito maior, que é a nossa vida. Corra! Cuide-se! Viva!

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Se você está correndo sozinho, procure ajuda.

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